A relação entre glúten e doenças auto-imunes é bastante conhecida.
Cada vez mais, ouvimos falar sobre pessoas que desenvolveram alguma doença celíaca ao longo da vida. No entanto, essa não é a única doença que pode ser potencializada devido à ação do glúten, conforme veremos a seguir.
O que origina as doenças auto-imunes?
Quando falamos em doenças autoimunes, vamos sempre ouvir falar sobre gatilhos que desencadeiam. Sejam alimentos, hormônios, toxinas, entre outros elementos que estimulam inadequadamente o sistema imunológico.
Esses gatilhos estão por toda parte e podem se apresentar por diferentes formas.
O trato gastro-intestinal costuma ser o principal gatilho, pois trata-se da da principal via de comunicação entre meio externo e meio interno.
Não há lugar que faça melhor essa transmissão de informações do que o aparelho digestivo, afinal, conecta o que está fora com o que está dentro.
Grande parte dessas conexões se dão pela comida.
Pode ser o ar e a água, porém, consumimos toneladas de alimentos ao longo da vida.
O consumo de glúten e seus efeitos
Dentre esses diferentes alimentos, o glúten tem papel muito importante. Em primeiro lugar, porque na vida em que vivemos hoje, consumimos muito mais glúten do que o necessário.
Em segundo, porque o glúten conta com a estrutura molecular parecida com a da tireoperoxidase, enzima que está altamente concentrada na tireoide.
É como se tivesse uma zebra e um cavalo pintado de branco e preto. No entanto, não conseguimos visualizar bem qual é a zebra e qual é o cavalo. Da mesma forma, nosso sistema imunológico não percebe essas diferenças e confunde.
Portanto, gera uma resposta inflamatória ao glúten, não por sermos celíacos mas por termos uma predisposição intestinal a isso.
Essa resposta imunológica ao glúten, reação cruzada cujo termo correto seria mimetismo molecular, gera anticorpos que atacam a tireoide.
Toda vez que o indivíduo com doença autoimune consome glúten, em especial com tireoidite de Hashitmoto, a produção desses anticorpos é estimulada.
A literatura médica descreve, inclusive, as alterações na microestrutura intestinal que antecedem o desenvolvimento dos anticorpos tireoidianos.
Além disso, precisamos lembrar que existem outras proteínas e alimentos que também geram essa resposta imunológica.
É importante lembrar que cada pessoa tem o seu gatilho. Um indivíduo que conta com doença de Hashimoto pode manifestar sintomas e ter gatilhos diferente da outra.
Assim como na SOP, não há como prescrever um tratamento único. É preciso considerar a individualidade da paciente para descrever o melhor meio de reverter o quadro.
No entanto, os casos de pacientes com tireoidite de Hashimoto, ao recomendar retirar o glúten da alimentação, é muito comum que relatem melhora nos sintomas em poucas semanas de tratamento.
Como isso impacta em um tratamento?
Individualizar a paciente a partir do seu quadro e do seu momento é fundamental. A conduta diante de quem tem SOP e deseja engravidar logo é completamente diferente em relação a quem tem SOP, tireoidite de Hashimoto e não quer engravidar, por exemplo.
Afinal, sabemos que uma paciente com TSH mais baixo evita os riscos de abortamento de repetição e favorece a fertilidade.
Num geral, entre 30 a 35% de todos nós temos algum nível de sensibilidade ao glúten. Não significa que seremos celíacos, pois isso depende de fatores epigenéticos. Consideramos a epigenética como o gatilho para disparar um fator que a genética possa apontar. É por isso que gosto de dizer que a genética não é uma sentença! A epigenética, que é a maneira como modulamos os genes, sim.
Espero ter esclarecido a relação entre glúten e doenças autoimunes.
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