A endometriose é uma condição crônica que afeta milhões de mulheres em todo o mundo. Além dos sintomas dolorosos associados a essa condição, a endometriose também pode ter um impacto significativo na fertilidade feminina.
Estudos mostram que até 50% das mulheres com endometriose podem ter dificuldade em engravidar naturalmente ou podem precisar de assistência médica para conceber.
Diante desse cenário, é essencial que os profissionais de saúde estejam cientes das estratégias disponíveis para ajudar as mulheres com endometriose a alcançar a gravidez.
No artigo que compartilho abaixo, apresento a relação entre endometriose e infertilidade, bem como as opções de tratamento para a concepção. Vamos conferir?
A endometriose
A endometriose é uma condição inflamatória crônica que afeta aproximadamente 1 em cada 10 mulheres em todo o mundo.
Os sintomas comuns incluem dor pélvica durante a menstruação e outras épocas do ciclo menstrual, sangramento menstrual intenso e diarreia cíclica e/ou constipação.
Há pouca correlação entre a quantidade de lesões endometriais observadas e a gravidade dos sintomas relatados pelas mulheres.
O diagnóstico pode ser feito definitivamente apenas por laparoscopia e verificação histológica.
Atualmente, não há cura para a endometriose, e os tratamentos se concentram no controle dos sintomas.
Endometriose e infertilidade
A infertilidade associada à endometriose pode ser atribuída a diversos fatores, que podem atuar isoladamente ou em conjunto. Os principais mecanismos envolvidos são:
Anatomia pélvica alterada
A presença de lesões endometrióticas e aderências na pelve pode causar distorções anatômicas, comprometendo a função normal das tubas uterinas e ovários.
Essas alterações podem levar à obstrução tubária, impedindo o encontro do óvulo com o espermatozoide e, consequentemente, a fecundação.
Qualidade do óvulo
Estudos têm demonstrado que mulheres com endometriose podem apresentar óvulos com menor qualidade, o que afeta diretamente a capacidade de fecundação e desenvolvimento embrionário.
Acredita-se que o ambiente inflamatório promovido pela doença possa afetar a maturação do óvulo e sua capacidade de ser fertilizado.
Resposta imunológica
A endometriose promove um ambiente inflamatório na pelve, com aumento de células imunológicas e produção de citocinas e fatores de crescimento.
Esse ambiente pode prejudicar a função dos espermatozoides e óvulos, bem como afetar a capacidade do embrião de se implantar no útero.
Alterações hormonais
A presença de tecido endometrial ectópico pode afetar a produção de hormônios ovarianos e a regulação do ciclo menstrual.
Essas alterações hormonais podem comprometer a ovulação e o desenvolvimento folicular, reduzindo as chances de gravidez.
Dor e dispareunia
A dor pélvica e a dispareunia podem comprometer a atividade sexual e, consequentemente, a probabilidade de engravidar.
Como melhorar as chances de concepção?
A endometriose é uma condição ginecológica que afeta a fertilidade de muitas mulheres em idade reprodutiva. E algumas estratégias podem ajudar na relação entre endometriose e infertilidade:
Tratamento cirúrgico
A cirurgia é uma opção para mulheres com endometriose que desejam engravidar, principalmente nos casos em que a doença afeta a anatomia pélvica ou causa obstrução das tubas uterinas.
A laparoscopia é o procedimento cirúrgico mais utilizado, permitindo a remoção das lesões endometrióticas, aderências e cistos ovarianos. A cirurgia pode melhorar a fertilidade ao restaurar a anatomia pélvica, aliviar a dor e reduzir a inflamação associada à endometriose.
Indução da ovulação e coito programado
Em casos de endometriose leve ou moderada, a indução da ovulação com medicamentos pode ser utilizada em combinação com o coito programado.
Essa abordagem envolve a estimulação dos ovários com hormônios, como o citrato de clomifeno ou gonadotrofinas, para induzir a maturação e liberação de um ou mais óvulos.
O coito é então programado para ocorrer durante o período fértil da mulher, aumentando a probabilidade de fecundação.
Inseminação intrauterina (IIU)
A inseminação intrauterina é uma técnica de reprodução assistida que pode ser considerada em casos de endometriose leve a moderada, especialmente quando a infertilidade está relacionada à dispareunia ou ao comprometimento da função espermática.
Nesse procedimento, a deposição dos espermatozoides ocorre diretamente no útero da mulher durante o período fértil, o que aumenta a chance de fecundação. A IIU pode acontecer em ciclos naturais ou em combinação com a indução da ovulação.
Fertilização in vitro (FIV)
A FIV é uma técnica de reprodução assistida indicada para casos de endometriose mais severa, obstrução tubária ou falhas em outras abordagens terapêuticas.
A FIV envolve a estimulação ovariana com hormônios, a coleta dos óvulos, a fecundação em laboratório e a transferência do embrião ao útero.
Em casos de endometriose, a FIV tem demonstrado taxas de sucesso comparáveis às de mulheres sem a doença.
Terapia hormonal adjuvante
O uso de terapia hormonal, como contraceptivos orais ou análogos do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), se indica antes ou após a cirurgia laparoscópica para reduzir a progressão da endometriose e aliviar a dor.
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Melhore as chances de concepção
A endometriose é uma condição complexa e multifatorial que afeta significativamente a vida de muitas mulheres em idade reprodutiva.
A relação entre endometriose e infertilidade é evidente, e os mecanismos envolvidos incluem alterações anatômicas, comprometimento da qualidade do óvulo, resposta imunológica adversa, desregulação hormonal e impacto na atividade sexual devido à dor.
As estratégias para melhorar a fertilidade em mulheres com endometriose apresentadas abrangem diversas abordagens, desde cirurgia laparoscópica até técnicas de reprodução assistida, como a indução da ovulação, coito programado, inseminação intrauterina e fertilização in vitro.
A escolha da técnica mais adequada depende da gravidade da endometriose, da presença de fatores associados e das necessidades específicas de cada paciente.
É fundamental que os profissionais da saúde estejam atualizados sobre as opções de tratamento disponíveis e possam orientar adequadamente suas pacientes no manejo dessa condição desafiadora.
Além disso, o diagnóstico precoce e o tratamento individualizado são essenciais para aumentar as chances de sucesso e melhorar a qualidade de vida dessas mulheres.
A colaboração multidisciplinar entre ginecologistas, especialistas em reprodução assistida, endocrinologistas e profissionais de saúde mental pode ser determinante no acompanhamento e tratamento adequado das pacientes com endometriose e infertilidade.
Por fim, espero que o artigo sobre endometriose e infertilidade, e estratégias para a concepção, seja útil. E convido, para quem deseja aprofundar mais seu conhecimento acerca do tema, siga também meu canal do Instagram!